Os mercados mundiais de alimentos enfrentam um longo período de elevação de preços, sem precedentes, e é provável que o índice de preços calculado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) atinja novo recorde ainda em dezembro, afirmou hoje Abdolreza Abbassian, secretário do Grupo Intergovernamental para Alimentos da FAO. Para ele, o aperto na oferta mundial de vários produtos agrícolas faz com que uma queda de cotações na safra 2011/12 seja altamente improvável.
O índice de preços da FAO, que monitora mês a mês as cotações internacionais de uma cesta de alimentos, atingiu em novembro 205 pontos e está a apenas sete pontos da máxima histórica alcançada em junho de 2008, de 212 pontos. A disparada do valor da comida em 2007/08 provocou conflitos generalizados em vários países em desenvolvimento. O rali foi forte, mas rápido, e na safra seguinte os preços já tinham recuado, em parte por causa da crise financeira mundial, aprofundada em setembro de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers.
Abbassian não acredita numa crise similar neste momento, mas vê o início de uma elevação de longo prazo nos custos da produção de alimentos, após um século de deflação. “Temos que ver o que dezembro nos trará. Mas eu ficaria surpreso se não virmos mais elevações (no índice de preços)”, afirmou. “Lentamente, estamos aprendendo que a comida não será mais tão barata como tem sido”.
A maioria dos mercados agrícolas viu fortes elevações de preços neste ano por causa de quebras de safra ao redor do mundo, provocadas por problemas climáticos. As cotações dos grãos atingiram níveis recordes, enquanto as do açúcar alcançaram seu maior valor desde o início dos anos 1980. Com estoques baixos em muitas commodities, como açúcar, café e milho, os mercados estão ainda sujeitos a choques de oferta e muitos observadores preveem altas ainda maiores em 2011.
Abbassian tem a mesma expectativa. “Ao contrário do episódio anterior de disparada, em 2007/08, quando os preços caíram rapidamente, a probabilidade de as cotações cederem em 2011/12 praticamente não existe”, disse.
Ana Conceição – Agência Estado